Verão chegando, maravilha: temperatura mínima na casa dos 30°C,
sensação térmica na casa do inferno, sol a pino, cabelos grudentos, suor, suor
alheio misturado ao seu suor, indisposição, cérebro derretendo, pele
derretendo, idéias derretendo. Calor, calor, calor. Chuvas em todas as direções
possíveis, imagináveis, inimagináveis. Enchentes. Ônibus lotados, com gente passando
calor e suando. Toda essa gente num ônibus lotado andando em meio à enchente.
Mais enchentes (eis mais uma das maravilhas de se morar na
cidade com o segundo maior índice pluviométrico do Universo [?!], e que está
caminhando para o primeiro).
Há quem diga que o verão é adorável, eu, peculiarmente
ranzinza, sou obrigada a discordar. Talvez minhas experiências empíricas com a
estação mais esperada (?) não tenham sido as melhores possíveis.
Ninguém disse que junto à pele pálida viria o incrível combo
da incapacidade de sobreviver a míseros cinco minutos em contato com os raios
solares. Ninguém avisou que aquela veia rompida no nariz, no calor do verão, desencadearia
jorros de sangue de dar inveja a grandes filmes de terror.
Até a vaidade feminina vai embora ao verão – com exceções de
algumas criaturas que vivem em função de mostrar os dotes físicos, independente de
as temperaturas estarem positivas ou negativas. Maquiagem de verão é protetor
solar e olhe lá. Mas dizem que mulher não sua. Chora pelos poros.
A vontade é de sair trajando uma toalha de banho. A vontade
é de sair trajando coisíssima alguma. A vontade é de nem sair.
Isso sem falar que, nessa indigníssima estação, os chatos, assim como os mosquitos, se
proliferam epidemicamente. Há sempre aquele grupinho da praia, que bate palma
pro sol, que endeusa o bronzeado, que bate
bola na areia. E que vai morrer de câncer de pele.
Mas não se desesperem, há duas possibilidades de
sobrevivência no verão: um carro anfíbio para sair de casa sem contato com sol
e chuva; se trancar em casa no aconchego do ar condicionado e lidar com as
contas astronômicas de energia, saindo do abrigo apenas nas estações
posteriores.
No mais, o verão é uma experiência de quase morte.