quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Sol Invictus


Perguntaram-me qual o sentido do Natal para um ateu. O que um ateu, esse ser humano tão diferente a ponto de não se comunicar telepaticamente com um suposto super homem invisível, faz na data mais esperada do ano?

Eu disse que não posso falar pelos “ateus”, até porque, como é bem sabido, algo bem definido no ateísmo, ao contrário do que acontece nas religiões, é o respeito ao individualismo. Felizmente ou não, existem ateus de todas as ideologias e hábitos possíveis. O único vínculo, se é que pode se dizer assim, agora ignorando por um momento qualquer materialismo histórico, é a falta de crença em qualquer deus. Digo qualquer Deus porque é importante lembrar que para um Indiano, por exemplo, você, cristão, é ateu em relação ao deus dele, e por aí vai. (E aí, já pensou se ele estiver certo?)

Existem ateus comunistas, materialistas, filósofos, analfabetos, poetas, cineastas, carpinteiros, cientistas, de esquerda, de direita, serial killers, moralistas, imorais, amorais. E seus hábitos natalinos, assim como todos os outros, são individuais e intransferíveis.

No meu caso, se é que me permitem individualizar a questão, a relação com o Natal tem tanto a ver com o ateísmo quanto com qualquer outra ideologia ou experiência pessoal.

Toda a questão, para mim, começa com as figuras-ícones que circundam o 25 de dezembro. Como toda festa cristã, principalmente se tratando da maior delas, a hipocrisia e o misticismo não poderiam ficar de fora.

Papai Noel e Jesus Cristo. Duas figuras históricas desfiguradas de acordo com o que fosse conveniente para quem tivesse poder de passar a história à diante. É mais do que óbvio que Jesus e Noel existiram. Mas, como o espírito humano é tolo, uma verdade bonita nunca é tão boa quando um mito, ambas as figuras sofreram lapidações durantes anos e anos. Há tantas histórias sobre a vida tanto de um como de outro que não dá como saber qual das inúmeras versões é a verdadeira.

Há quem diga que Papai Noel era um religioso que doava presentes na calada da noite. Há versões que relatam a vida de um homem rico, que fazia caridade às crianças, na noite de Natal. E há a versão clássica. Clássica é claro, porque é conveniente. Assim como a versão clássica do cristo bíblico. Cheio de poderes. Aquele que nasceu pra morrer na cruz e pagar os pecados que seu próprio pai deixou que existissem. (Aliás, nunca entendi porque o homem morrer na cruz anularia a dívida da humanidade com o próprio pai!?) 

Como foi dito anteriormente, esses personagens existiram. Obviamente sem essa aura mística. Não se sabe se essa é realmente sua história, se esses são realmente os seus nomes. No final das contas, a única diferença entre Cristo e o Bom Velinho é que em Papai Noel só as crianças tolas acreditam.

Eis meu segundo problema com o Natal: o dinheiro. Sendo uma festividade religiosa, as carteiras são, como se é esperado, as principais convidadas. Acorde, vivente: ninguém, a não ser sua família, e talvez nem ela, está contagiado pelo espírito de Natal, o que quer que isso seja. Ninguém quer que você seja imensamente feliz. A não ser que sua felicidade dependa única e exclusivamente de tudo aquilo que o cartão de crédito puder proporcionar.

Presentes pagos a perda de vista, com um dinheiro que você nem tem, com coisas que você nem precisa, para pessoas que você nem gosta – sem contar que os que você ganha não são metade do que os que você dá. Enfeites irritantes, árvores gigantes dentro de casa, ceia com toneladas de comidas caríssimas. Ao redor da ceia, aquela reunião de familiares que você, mesmo com essa história de espírito de Natal, mal suporta.

 O ápice da noite de Natal: aquela oração em família, pra agradecer todos os presentes e toda a fartura. Eis, que de súbito, alguém se lembra da história do menino Jesus. A hipocrisia entra em níveis astronômicos, reina absoluta. Alguém vai querer rezar por quem não tem o que comer, mesmo não tendo convidado qualquer pessoa nessas condições pra compartilhar da comida. Mas, é Natal.

É sempre aí que tocam na questão de porque um ateu comemoraria o Natal. Eu, a exemplo de todos os religiosos, sou hipócrita e participo da festa para comer e ganhar presentes. Nada mais. Não me importo se há história por trás do feriado. No fundo, ninguém se importa. Não faz diferença alguma. A diferença entre eu e um cristão, nesse dia, é que eu sei que Jesus não nasceu em 25 de dezembro.

Agora retomando a questão do espírito de Natal, pergunto: se nessa época do ano você tem de se encher de paz e amor no coração, e todas essas coisas considerada boas, por que Jesus nasceu, e nas outras épocas do ano onde ele sempre (segundo a crença) está presente? Como funciona isso? No Natal tudo é lindo e no resto do ano o próximo que espere o Natal do ano que vem?

Viva o milagre do Natal, do cristianismo, do capitalismo, da hipocrisia.





Àqueles que me presentearem neste fim de ano, meus sinceros votos: Feliz Natal, em 5 vezes, sem juros.

{Só mais duas palavras aos religiosos: Deus Mitra. (Google it)}

3 comentários:

  1. Péssima questão, ótima resposta rs
    interessante a sua capacidade de tornar as coisas tão simples complexas e as coisas tão complexas simples, eu gosto disso.

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  2. Coloque o gadget de seguidores para te seguir.

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  3. Coloquei, o gadget está com problemas, mas está lá no fim da página de novo.

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