Perguntaram-me qual o sentido do Natal para um ateu. O que
um ateu, esse ser humano tão diferente a ponto de não se comunicar
telepaticamente com um suposto super homem invisível, faz na data mais esperada do ano?
Eu disse que não posso falar pelos “ateus”, até porque, como
é bem sabido, algo bem definido no ateísmo, ao contrário do que acontece nas
religiões, é o respeito ao individualismo. Felizmente ou não, existem ateus de
todas as ideologias e hábitos possíveis. O único vínculo, se é que pode se dizer assim, agora ignorando por um
momento qualquer materialismo histórico, é a falta de crença em qualquer deus. Digo
qualquer Deus porque é importante lembrar que para um Indiano, por exemplo,
você, cristão, é ateu em relação ao deus dele, e por aí vai. (E aí, já pensou
se ele estiver certo?)
Existem ateus comunistas, materialistas, filósofos,
analfabetos, poetas, cineastas, carpinteiros, cientistas, de esquerda, de
direita, serial killers, moralistas, imorais, amorais. E seus hábitos
natalinos, assim como todos os outros, são individuais e intransferíveis.
No meu caso, se é que me permitem individualizar a questão, a
relação com o Natal tem tanto a ver com o ateísmo quanto com qualquer outra ideologia
ou experiência pessoal.
Toda a questão, para mim, começa com as figuras-ícones que
circundam o 25 de dezembro. Como toda festa cristã, principalmente se tratando
da maior delas, a hipocrisia e o misticismo não poderiam ficar de fora.
Papai
Noel e Jesus Cristo. Duas figuras históricas desfiguradas de acordo com o que
fosse conveniente para quem tivesse poder de passar a história à diante. É mais do que óbvio
que Jesus e Noel existiram. Mas, como o espírito humano é tolo, uma verdade
bonita nunca é tão boa quando um mito, ambas
as figuras sofreram lapidações durantes anos e anos. Há tantas histórias sobre
a vida tanto de um como de outro que não dá como saber qual das inúmeras
versões é a verdadeira.
Há quem diga que Papai Noel era um religioso que doava
presentes na calada da noite. Há versões que relatam a vida de um homem rico,
que fazia caridade às crianças, na noite de Natal. E há a versão clássica. Clássica é claro, porque é
conveniente. Assim como a versão clássica do cristo bíblico. Cheio de poderes.
Aquele que nasceu pra morrer na cruz e pagar os pecados que seu próprio pai
deixou que existissem. (Aliás, nunca entendi porque o homem morrer na cruz
anularia a dívida da humanidade com o próprio pai!?)
Como foi dito anteriormente, esses personagens existiram. Obviamente
sem essa aura mística. Não se sabe se essa é realmente sua
história, se esses são realmente os seus nomes. No final das contas, a única
diferença entre Cristo e o Bom Velinho é que em Papai Noel só as crianças tolas
acreditam.
Eis meu segundo problema com o Natal: o dinheiro. Sendo uma
festividade religiosa, as carteiras são, como se é esperado, as principais
convidadas. Acorde, vivente: ninguém, a não ser sua família, e talvez nem ela,
está contagiado pelo espírito de Natal, o que quer que isso seja. Ninguém quer
que você seja imensamente feliz. A não ser que sua felicidade dependa única e
exclusivamente de tudo aquilo que o cartão de crédito puder proporcionar.
Presentes pagos a perda de vista, com um dinheiro que você
nem tem, com coisas que você nem precisa, para pessoas que você nem gosta – sem
contar que os que você ganha não são metade do que os que você dá. Enfeites
irritantes, árvores gigantes dentro de casa, ceia com toneladas de comidas
caríssimas. Ao redor da ceia, aquela reunião de familiares que você, mesmo com
essa história de espírito de Natal, mal suporta.
O ápice da noite de
Natal: aquela oração em família, pra agradecer todos os presentes e toda a
fartura. Eis, que de súbito, alguém se lembra da história do menino Jesus. A
hipocrisia entra em níveis astronômicos, reina absoluta. Alguém vai querer
rezar por quem não tem o que comer, mesmo não tendo convidado qualquer pessoa
nessas condições pra compartilhar da comida. Mas, é Natal.
É sempre aí que tocam na questão de porque um ateu comemoraria
o Natal. Eu, a exemplo de todos os religiosos, sou hipócrita e participo da
festa para comer e ganhar presentes. Nada mais. Não me importo se há história
por trás do feriado. No fundo, ninguém se importa. Não faz diferença alguma. A
diferença entre eu e um cristão, nesse dia, é que eu sei que Jesus não nasceu
em 25 de dezembro.
Agora retomando a questão do espírito de Natal, pergunto: se
nessa época do ano você tem de se encher de paz e amor no coração, e todas
essas coisas considerada boas, por que Jesus nasceu, e nas outras épocas do ano
onde ele sempre (segundo a crença) está presente? Como funciona isso? No Natal
tudo é lindo e no resto do ano o próximo que espere o Natal do ano que vem?
Viva o milagre do Natal, do cristianismo, do capitalismo, da
hipocrisia.
Àqueles que me presentearem neste fim de ano, meus sinceros
votos: Feliz Natal, em 5 vezes, sem juros.
{Só mais duas palavras aos religiosos: Deus Mitra. (Google it)}
Péssima questão, ótima resposta rs
ResponderExcluirinteressante a sua capacidade de tornar as coisas tão simples complexas e as coisas tão complexas simples, eu gosto disso.
Coloque o gadget de seguidores para te seguir.
ResponderExcluirColoquei, o gadget está com problemas, mas está lá no fim da página de novo.
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